Finanças comportamentais: como as emoções podem afetar sua saúde financeiraTempo de leitura estimado: 9 min.
04 agosto 2022
Família
Já ouviu falar em finanças comportamentais? Conheça como a psicologia e a economia podem ajudá-lo a ter sucesso na vida financeira.
Você sabe dizer quantas decisões tomou hoje? Ir a pé para o trabalho ou chamar um motorista de aplicativo? Tomar café ou chá? Pagar uma compra com cartão ou fazer um pix? Segundo estimativas do jornal The Wall Street, tomamos, aproximadamente, 35.000 decisões por dia. Você sabia que, muitas delas, envolvem as finanças comportamentais?
Por isso, neste artigo, vamos traçar um paralelo entre as emoções, os comportamentos, e claro, as finanças, refletindo sobre os modelos mentais de escassez e abundância, para que você saiba mais sobre cada um deles, além de conhecer algumas armadilhas financeiras e como agir diante delas.
O que são finanças comportamentais?
Entre razão, emoção e as decisões ligadas ao dinheiro
Desde a década de 70, a área de estudo conhecida por Finanças Comportamentais busca compreender a relação entre psicologia e economia para determinar como as pessoas tomam suas decisões financeiras e quais fatores podem influenciar nesse processo. Vamos ver isso na prática?
Imagine a seguinte situação: ao entrar em uma loja de eletrodomésticos para comprar um fogão, Maria se deparou com o anúncio “Desconto progressivo: 1 produto 5% OFF, 2 produtos 20% OFF e 3 produtos 40% OFF”. Rapidamente, ela colocou no carrinho um aspirador de pó novo, uma batedeira, uma panela de pressão igual a que já possui, um fogão novo, e ainda conseguiu um voucher de 3% de desconto porque fez o cartão da loja e parcelou a compra em 20x.
Em sua opinião, Maria fez um bom negócio ou considera que foi uma compra por impulso? Em algum momento você já agiu como Maria e acabou se endividando?
Pesquisadores como Daniel Kahneman e Amos Tversky, por meio de seus estudos, descobriram que não somos completamente conscientes do nosso próprio processo de pensamento, pois grande parte das decisões são tomadas de maneira automática e inconsciente.
Desde a infância, aprendemos diversos comportamentos, muitos deles relacionados ao dinheiro, e isso condiciona a maneira como agimos e pensamos também na vida financeira. São como uma combinação de crenças e valores que podem nos levar a dois tipos de mentalidades distintas: escassez ou abundância.
Dessa maneira, conhecer qual a sua programação mental predominante é um bom começo para atingir o bem-estar financeiro e entender o motivo que nos leva, em vários momentos, à autossabotagem, especialmente com o dinheiro.
Modelos mentais na prática
O nosso tipo de modelo mental está associado a tudo que escutamos e vivenciamos na infância, crenças como “dinheiro é sujo,” ou “dinheiro não traz felicidade” ficam armazenadas na mente e são levadas também para a vida adulta.
Assim, a maneira como entendemos o que é dinheiro, para que ele serve e a relação que estabelecemos com ele, sendo ela positiva ou negativa, resulta das experiências prévias e podem sim ser substituídas ao longo da vida.
Por isso, conhecer um pouco mais sobre os dois tipos de modelos mentais e refletir em qual deles nos percebemos atualmente, é fundamental para substituir crenças limitantes antigas por outras mais otimistas e abundantes.
Modelo da escassez
Uma pessoa com a mente presa na escassez pensa que sempre está faltando algo em sua vida. Essa sensação de incompletude desperta sentimentos como o medo e a insegurança em relação ao dinheiro, entre outros comportamentos e consequências, dentre eles:
- O salário não cobrir as despesas feitas no mês anterior;
- Ter a necessidade constante de comprar;
- Nunca tem dinheiro suficiente;
- Não conseguir guardar dinheiro ou economizar;
- Acumular muitos objetos e não conseguir desapegar;
- Gastar o dinheiro antes mesmo de ganhar;
- Usar intensamente o cartão de crédito.
Pessoas que compram compulsivamente podem ter tido experiências traumáticas na infância ou vida adulta, que levaram a esse sentimento constante de ausência.
Modelo de abundância
A mente focada no modelo de abundância, diferentemente da mente de escassez, é mais tranquila, otimista, nutri crenças e comportamentos positivos sobre o dinheiro, como:
- Ser autoconfiante e enxergar nas dificuldades possibilidades de prosperar;
- Ter gratidão pelo que possui e não passar a maior parte do tempo pensando no que não tem;
- Buscar soluções simples e inovadoras;
- Possuir estabilidade financeira e não enxergar o dinheiro como um problema;
- Nutrir um mindset de crescimento e entender que falhar é parte da caminhada rumo ao sucesso;
- Saber que há riqueza e oportunidades para todos;
- Ter equilíbrio entre gastar, poupar e investir.
Uma vida abundante é ter a certeza de que estamos caminhando na direção correta, é perseverar e perceber que a vida não é perde-ganha, mas uma ganha-ganha constante, pois mesmo nos momentos desafiadores é possível extrair aprendizados.
Mas, mesmo para uma mente abundante, existem vieses inconscientes que podem influenciar as decisões, sejam em relação ao dinheiro ou não, que estão ligadas às nossas emoções e podem induzir a erros.
Por isso, além de entender mais sobre o modelo mental também é importante compreender a heurística, ou seja, os atalhos mentais e os vieses que atuam na tomada de decisão.
A heurística e os vieses inconscientes nas decisões financeiras
A Comissão de Valores Imobiliários (CVM), define heurística como atalhos mentais que agilizam o processo de tomada de decisão, simplificando a análise e percepção das informações recebidas.
Em síntese, seria usar o que sabemos para fazer uma escolha sobre aquilo que não sabemos, o que diminui a complexidade na tomada de decisão, mas nem sempre é benéfico, uma vez que induz a erros de percepção, análise e julgamento, que chamamos de vises inconscientes.
Existem diversos vises ou armadilhas psicológicas financeiras que influenciam no comportamento econômico e financeiro das pessoas, como as emoções, influências sociais, crenças e padrões de comportamento. Então, confira algumas delas e como agir.
Viés do ponto cego
O viés do ponto cego abre a possibilidade para todos os outros, uma vez que está relacionado à ideia de que falhamos em reconhecer que nossas decisões são afetadas por fatores internos e externos, como preferências, preconceitos, cultura, emoções, sentimentos e o próprio ambiente.
Ex: Ir ao mercado com fome e comprar mais itens do que o planejado.
Como agir:
- Reconhecer que existem influências na tomada de decisão que não conseguimos identificar. Não se deixe levar apenas pelos sentimentos;
- Conheça os seus padrões de comportamento e saiba mais sobre as táticas usadas para influenciar a sua decisão de compra;
- Pesquise antes de fazer uma compra; use aplicativos para comparar preços, use a calculadora para conferir se de fato uma promoção é vantajosa.
Aversão à perda
Quando uma pessoa sente a dor da perda com mais intensidade do que o prazer com o ganho e age com impulsividade diante do medo de desperdiçar uma oportunidade.
Ex: “É pegar ou largar! 80%OFF por tempo limitado”.
Como agir:
- Evite decisões sob pressão, avalie com calma as propostas e não caia em discursos como “oportunidade única” ou “disponível apenas por 24h”;
- Saiba identificar como está se sentindo no momento da escolha, exercite o autoconhecimento e reflita se aquilo é, de fato, vantajoso, necessário ou não.
Efeito de enquadramento
Tudo depende do ponto de vista, não é? Esse viés nos mostra que sim! Nele, a tomada de decisão pode ser afetada pela forma como uma proposta é apresentada. Veja:
Ex: Você prefere ganhar um vale presente de R$10,00 ou pagar R$ 7,00 por um vale de R$ 20,00? Qual opção é mais vantajosa? A segunda opção é mais vantajosa, pois nela você está “ganhando” 3 reais.
Como agir:
- Analise cuidadosamente cada proposta e encontre opiniões pensadas para influenciar a sua decisão;
- Tome cuidado com a aversão à perda que pode, sim, levar a riscos e prejuízos;
- Suspeite de ofertas que apresentarem apenas vantagens (ganhos) e descubra o que deixou de ser mencionado;
Efeito adesão (efeito manada)
Já comprou um celular novo porque sentiu que o seu, mesmo funcionando bem, já estava um pouco “velhinho” e ultrapassado? Se sim, você já caiu nessa armadilha!
Ex: “Esse é o carro mais vendido, todo mundo que comprou está amando a experiência!”
Como agir:
- Não se deixe levar pelo calor das emoções e pergunte: “será que preciso comprar este item?” “Se sim, existem outras opções com os mesmo benefícios e menor preço no mercado?”;
- Reflita se o preço condiz ao que está sendo oferecido;
- Não seja influenciado pela publicidade e modismos, o que está “em alta” tende a custar mais caro.
Efeito halo
Adquirir um produto/serviço baseado apenas em um aspecto, sem considerar outros pontos, levando a prejuízos financeiros.
Ex: “Esse shampoo deve ser muito bom, porque aquela influencer famosa comprou e mostrou nas redes sociais”.
Como agir:
- Não tome decisões baseadas apenas nas primeiras impressões;
- Uma marca famosa geralmente investe bastante em publicidade, o que pode tornar o preço do produto elevado em relação ao seu benefício;
- Conheça a si mesmo, saiba o que te agrada ou desagrada, experimente e tire as próprias conclusões;
- Saiba identificar os padrões comportamentais que te levam a tomar as decisões.
Conforme vimos, existem múltiplos fatores que podem influenciar o processo de tomada decisão. Conheça ainda mais sobre eles em nosso artigo Entenda como a psicologia financeira pode impactar seu bolso.
Aproveite, também, para saber sobre o Gênio das Finanças, um programa completo, construído a partir dos princípios da Economia Comportamental, que leva a educação financeira às crianças e jovens, de forma lúdica, atrativa e adequada à idade, ensinando-os a desenvolver comportamentos saudáveis com o dinheiro, além de aprender sobre as armadilhas psicológicas financeiras na prática para uma vida financeira de sucesso!